quarta-feira, 31 de dezembro de 2008




httpimages.google.com.brimgresimgurl=httpimg213.imageshack.usimg2139813astorpiazzollamga5.

A Piazzolla

Tus notas son crueles
como estampas de calle.
En ti sin disculpas
paso a creer en los hombres
y dejo mis ganas de vivir
aún mayores.
Las estampas pertenecen a tu gente
y las sombras que dibujas,
a tus grietas.

Para mí
es como si juntara los gritos
de los sauces de mi infancia
despeinados;
las hamacas que volaban como naves
y las rosas del jardín de mis abuelos.
Como premios que se sellan en el alma
y aparecen cuando tocas tus poemas !
Obs . : perdi o registro da autoria desta imagem!


TEU LADO DESFEITO


Pela fresta
feito abismo
te descubro
sem resguardo.

Não te guardo
nem te abrigo
-sou de noite
sem vestígio
sem amigos
sem futuro-

não te agarro
nem te abraço:

quero inteiro
teu descaso
sem promessa
sem desgaste
sem firmeza:
teu desastre.

Tem aromas
como encantos
esse lado
que desfazes!
Pequeno Conto


Lua Foice

Enquanto olhava a lua da janela do hospital, lembrava as horas incríveis que haviam vivido.Muitas horas felizes, muitos anos,muitos dias natais,dias festas de escola,dias-família e, também, chatos almoços formais. Sempre juntos.Ou quase.Anos dançantes e filhos, anos difíceis e ternos,anos... Da janela quase cortante a lua impávida furava o céu.A meia lua fininha doía em suas costelas subindo em nó à garganta e fincava sua unha fria até fazê-la chorar.Mais uma vez, chorar.Raúl nesses tubos invasores que o enchiam como raízes : nos braços, nas narinas, na traquéia...os olhos vítreos quase fechados, a face suada e fria quase cinza. O som rítmico e aterrorizante daquele aparelho cruel a segurá-lo na Terra sem pudor. E ele? Onde estava? Sempre pedira para não terminar seus dias assim; e ela: onde estava? Ela- ela mesma-que nada podia fazer?
Lembrou das últimas palavras que ele emitira, da dor arrastada que as tornara fugitivas e baixinhas,suplicantes- e tão desejáveis para ela, que nunca mais iriam acontecer.Nunca mais ouviria a voz grave a sussurrar-lhe no ouvido o carinho, a raiva, o contato.As últimas...essas tinham sido inesquecíveis ("te amo, bem"; "vou mas te amo") incompreensíveis em parte: " vou tocar meu piano agora pelos dedos de João"...João o neto de seis anos e a única criança da família que vinha vê-lo sem ter mêdo,subindo à cama e tocando sempre seu rosto com uma intimidade inabalável. João confundia os adultos que nada entendiam : era curiosidade? Era carinho? Não permitia que o tirassem enquanto não acabava de olhá-lo, como esfinge, tocando suas mãos geladas e esfregando seus dedos nos do avô...duros e cansados embaixo do cobertor.

Agora o vô não falava mais, não estava (não comparecia ao exame) ele se rendera a algo mais forte que o João- algo sombrio que as crianças nem sempre conseguem entender- mas não o João: João entendia porque entendia, porque nada perguntara e apenas sabia: descia da cama, saía do quarto e corría pelo corredor do hospital como se algo tivesse conseguido levar desse contato esfíngico inexplicável. "Mãe"; disse Analice -mãe do João- à Raquel- "sabe o que fez hoje o João? Tocou piano. Abriu o piano que eu não tóco mais, e tocou- tocou duas músicas simples; coerentes, bonitas- eu nem sei como fez, a gente nunca ensinou. Ele nunca aprendeu..." Raquel voltou-se à janela- tocou o vidro frio...mais uma vez chorou. E percebeu que Raúl fugira : voara com a brisa na presença da lua- foice impávida a testemunhar que finalmente, ele a deixara só... O aparelho cansativo fez soar o alarme, alguns médicos chegaram e correram à beira da cama...O choro da filha, o nó na garganta e aquela sensação de liberdade e dor.
No corredor, o neto- conversando calmamente com o avô. Agora sim, ele acenando, indo embora- como um pássaro leve, como pianista obcecado, enrolando seus mil dedos até virar uma nota só. Uma nota de lua e foice a roubar-lhe para sempre o coração...
imagem retirada de : http://cruisineurope.blog.com/

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SINAL

Uma tríade de luzes
sobre os fios da calçada
sobre os postes
desta esquina
desta rua
desta rima:
um semáforo sem dentes
que me morde nesta espera
que anuncia – sobre rodas
que esta noite
está vazia...



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CALÇADA de Todo Dia
(ou “Entre o ponto e o metrô”)

Vou driblando corpos altos
como ave atordoada
e de perto
tantas caras
me parecem assustadas.

A cidade
que eu tolero
também é
a que venero.
Não explico,
não receio.
É catálogo de mentes
caminhar
calçada à frente:
figurino cativante
sem ingresso
nem patente.

Nessa faixa
deixo dias, deixo sonhos
inerentes.
E depois eu os resgato
em outro dia
feito enfeites.
Quando páro
e os confiro...
tenho os meus
e os de outra gente!
Obra do artista uruguaio Carlos Páez Vilaró
Praia : de la Barra, Maldonado, Uruguay



LADOS OPOSTOS

Código meu
é direto.

Guardo o pensar
como objeto;
uso seu braço
e o aperto.

Mesmo com isto
detecto
tantos momentos
sem jeito:
só com pensar
não é certo.
Só com sentir
me arrebento.

Tu me dirás
“o que é certo?”
Eu te respondo
“o desejo”.

Tu buscarás
o teu nexo.
Eu te perturbo
e te beijo.

Lados opostos
e anexos.
RÉDEAS

Faltam-me tuas rédeas invisíveis
que silenciosamente
dominavam-me no escuro.
As linhas que marcaste
como código insistente
e que deixei;
invasoras e insensatas
corromper minha coerência.

Faltam-me os silêncios libertinos
que furavam meus momentos
disfarçados de raízes
com matizes
e deslizes...

Falta-me tua ausência repetida
que marcava sua presença
no retorno inesquecível.
Um retorno que inventavas
-longas horas compartidas-
em contatos delirantes
sem aviso,
sem palavras.

E na falta vou passando
com meus imãs feito olhos
por quem sabe;
por às vezes;
por talvezes...
Pelo tempo que devora
e na memória
te decora
Inconsequências

Pela nossa situação
inconsequências são bem-vindas
como esquinas que se cruzam
na bagunça da cidade.

Como árvore com frutos
que -se ficam- vão caindo
arrancá-los é sofrido
mas deixá-los...é perigo.

Dou - te a chance no meu sitio
de plantar umas sementes
como caso inconsequente
se quiseres
vens e ficas!