quarta-feira, 4 de maio de 2011

ESQUIVA

Nosso desencontro
saiu por aí.
Criou pontes gigantescas assustando as cidades
e fez remotas ausências
sem licença.
Somente eu o vi?
Meu susto, só meu.
Mas não:
nosso desencontro fez pensar na solidão
e abandonou datas e planos
como alguém
só.
Mas descobre-se o oposto
no oposto
e sem mais dialética que ser
o que é
o nosso desencontro prova o encontro
abraça o perto
de longe
e prova a força da presença
na ausência
a dois

cristina 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Menos mal


Ainda bem que tens espaço
para me emprestar
aceitar algumas queixas
revisar qualquer poema
e me caçar

ainda bem que tens motivo
para entrar no meu abrigo
sacudir os velhos tons
revirar
me resgatar.

Ainda bem que me cutucas
mesmo ao longe
e sem largar

que me invades
feito noite

que me ecoas
como onda

que eu te busco
encontro brusco
como nunca sonharia
ainda bem
que enfim estás...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ciúme e armas


Não vai esbarrar teu pensamento
em pobres e hostis sentimentos:
driblarei as cercas farpadas
colocadas por toscas pertinências.

Abrirei os baús centenários
esses, que ganhamos como emblemas:
ciúmes são mulheres de vestido
que laçam seus amores com fastio.

Não são não: os ciúmes são bandidos
que cortam com as facas pulsos frios.
Porém não fazem parte de meus lemas
eu creio em liberdade, amor, poemas.

sábado, 8 de janeiro de 2011

El Olvido

Era una parte mía
que caminaba sola buscándote.
Nada la hacía parar
y cuando algo la enfrentaba
desaparecía.

Era alguna cosa
que llevaba por dentro
y se escapaba de mí
cuando te perdía.
Tomaba vida propia
y le rezongaba al silencio
que te hacía invisible.

Entonces me dijo que dolías
como duelen las cosas bellas
que no se pueden agarrar.

Y se hizo unas alas y un escudo
de coraje y soledad.

Y voló para lejos
llevándose mi parte con ella
y desde entonces
-entonces sí-
te pude empezar a olvidar.

cristina

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Agulha


Buscarei no interior dos olhares
o lado de fora dos que passam.
Porque se peço
nada dizem
e se exagero
nada mostram.

Temem a raridade
dos sentimentos que não permitem
e assim
nada gritam.

Mas emudecem seus corações
de tal maneira
que a estampa clara do que apresentam
disfarçam
e fico aqui como um astronauta
pisando luas por descobrir.

Nesse tratado de espaço vivo
um dia talvez encontre você:
avise e me toque,
exagere
explicite
e passe o oxigênio
se ainda respiro

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Tu. Eu e algo

Tu. Eu e algo.

Intercedeste como paralela
embora eu interpretasse
que uma nave em inquestionável
linha reta
atravessara a cidade.

(É claro que inconveniente
até
a janela da minha sala).

O espaço é fundo de cena
e a noite
quase poema.

Tu:
duas vogais em desastre
bruto
como um diamante.
Eu : como um duo em parte
teu, misturado ao descarte.

Claro pedaço de algo
meio que... reciclagem.

Vários sentidos sem nexo.
Sem lapidar.

Pura arte.

domingo, 20 de junho de 2010



                                                                         Desenho : Rui
                                                           [ http://desenhosdorui.blogs.sapo.pt/76979.html]

  Caso

Você pode achar que não houve
apenas eu 
tive e fiz. 

Ou mesmo assim
 sem ter tido
 azucrinei madrugadas
 para mim mesma
 com teu perfume.
 Provável; dier,
 provável é.

 Vamos de novo aos quintais
 perguntar tudo a esta vida:
 o que é real
e o que é nunca? 
O que é que é mesmo
 a mentira?
O teu perfume de areia
 ainda está:
eterna estréia. 
Mas não troféu
treco morto.

Porque alinhavo e permito 
todas as marcas que touco
e elas se ajeitam e gostam 
de perdurar 
como encostos...

 Cristina