sábado, 17 de janeiro de 2009


Reflexões sobre o Dia da Mulher
texto publicado inicialmente na Usina de Letras
em março de 2007
A TODAS AS MULHERES AMIGAS, INIMIGAS, CONHECIDAS, DESCONHECIDAS- A TODAS (E A TODOS OS HOMENS) QUE QUEIRAM
Se ainda não percebeu, estamos distantes.Embora tenhamos feito muita coisa, e as nossas mudanças sejam reais, muitas delas são apenas teóricas, idealizadas.Ainda continuamos a esperar príncipes encantados, a pensar nos relacionamentos como “dando certo”apenas se prolongados.
Se olharmos com atenção, as fêmeas do planeta ainda procuram desesperadamente a aceitação dos machos. Uma questão de garantia. E estabelecem ou contribuem muito para manter os códigos arcaicos que determinam o “certo” e o “errado” nas relações heterossexuais .
Quem sabe até, nas homossexuais, os modelos se repitam, estereotipados ou não, procurando consolidação no mundo das normas sociais aceitáveis.Se ainda não percebemos, é bom reparar : a maioria dos príncipes a quem permitimos que esbarrem nos nossos vestidos de “Barbies” são marcados pela banalidade e seus contornos não podem atingir dimensões muito profundas, sob pena de perderem o encanto.O jogo de sedução que aprendemos é pobre, marcado pelas rédeas do certo e do errado como limites criados pelas diferenças entre os sexos, onde existem atitudes que as mulheres não devem ter por serem mulheres, e outras que homem é obrigado a ter para alimentar sua fama de macho.Ainda assusta o sorriso feminino aberto, estilo Leila Diniz. Sorriso que nada tem a ver (ou que tudo pode ter a ver ) com dar gargalhadas, mas com o espaço permitido ao prazer de viver- e poder rir do próprio ridículo – porque é muito melhor poder estar vivo(a).Ainda longe de ser aceito, é bem condenável fazer propostas no universo das cinderelas : propostas são riscos a serem corridos apenas pelos príncipes. Ainda assusta dizer que sim de cara : um sim aberto e cheio de vida, com todos os riscos embaixo do braço. Um “sim” que permita ser momentâneo, passageiro. Voraz e verdadeiro- não por isso duradouro- mas real. Que atravesse os encantos de outros “sim”, de outras propostas : queremos o “sim” ainda amarrado, aprisionado- e quando solto, solto apenas para os machos da espécie.Fora isso, temos mulheres que continuarão parindo porque não tem como impedir, como se fosse essa a única e melhor proposta da natureza para nossas existências. Como sina, como obrigação natural, como tatuagem social para a fome e o desespero porque não há outro caminho – aprende-se a dar o que não se tem porque se é mulher- o que nestas realidades, sejamos justos, nem sempre caracteriza apenas o universo feminino. Com uma questão sim, apenas feminina : nós parimos. Embarrigamos, amamentamos, desesperamos, alimentamos, cuidamos.E abraçamos as ditaduras com especial retoque de suavidade : da moda, dos padrões físicos que alguém inventa, da beleza fabricada, da juventude eterna, da domesticidade. Mas também é verdade:se ainda não percebemos, estamos perto. Conquistamos espaços, liberdades, possibilidades, aberturas, caminhos novos, compromissos, responsabilidades, dificuldades, facilidades. É bem verdade :em muitos terrenos, pobres, ricas, mais ou menos, ou nem mais nem menos- conquistamos o direito de chutar o balde. E chutamos. Mas nos mesmos terrenos, algumas de nós ainda suplicam para que nenhuma tenha a idéia de chutá-lo. Talvez : -quando desconfiemos que depende de nós – muito do que não nos permitimos, depende de nós - que o precipício ancestral criado para nós não é de verdade, mas que foi inventado para nos ensurdecer, para que negássemos nossa enorme capacidade de olhar o outro, de entender a vida, de achar saídas, de encontrar respostas, de criar, de fazer propostas, de assumir riscos...Talvez,se desconfiássemos, olharíamos mais para dentro. E descobriríamos o quanto temos, o quanto podemos, chutaríamos o balde sempre que fosse preciso,sem titubeios.Isso na cama, na mesa, na porta, na cara. Na vida.Sem medo de ficar só, de chorar, de rir. Perderíamos mais ainda o medo de lutar. O medo de perder.Mas principamente, perderíamos com felicidade o medo de ganhar!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Fotografia retirada do Google. "Amor e Liberdade". Autoria registrada
no canto direito, aumentar.

PASTO


O amor é meio pequeno

quando amarrado no feno.

Deglute pregos e sapos

por se sentir muito feio

como uma queda de braço

e o tal ciúme atrelado.


Prefiro o pasto do mato

para correr ao teu lado.

Eu quero o tempo sem tempo

dos nossos céus estrelados!


Maria Cristina



Autoria? desconeço. Imagem retirada do Google.


MILAGRE


Amassei alguns vestidos

que me lembravam alguém.

Fiz montes de simpatias

adormeci na banheira

tomei dois banhos de flores

colei meu nome na cama.


Atei fitinhas, fiz figa.

Depois cansada de ritos

busquei bobagens humanas.

Tentei caminhos ocultos.

Andei de costas no muro.

Por te encontrar, fiz de tudo.


E na magia do nada

te conheci na calçada!


Maria Cristina
Imagem retirada da Internet. Desconheço o autor da fotografia.

SEI LÁ AUSÊNCIA

O meu carinho por ti

Brinca de pique e esconde.

Porque tem dúvida enorme

E quase fome,

e não dorme.

Apela aos fatos e inventa

Quando se esquece do nome

Desse sentido que avisa

Se tu –por fim- vens, ou somes!
BUSCA tempo

Como deixaste teu barco
meio à deriva e ao acaso
passado o tempo sem nada
verifiquei teu atraso.

Aqui da beira eu olhando
deixei relógio e casaco
para buscar no oceano
alguma marca ou retrato.

Mas como o tempo é malvado
não tem perdão nem agrado;
adormeceu sob os mares
o coração e os recados.

Uma paixão atrevida
que se esgotou, quase nua...
que se voltar não é a mesma
mas brinca assim, de ser tua.
Não por carinho , por coisas
nem teimosia ou espaços.
Mas por saber que roubaste
umas poesias e a lua.
Escher

FINAL e PONTO


Te descobri meio só

como na feira

e ao sol.

Fotografei teus contornos

e te arquivei

quase morno...

Depois dos anos

e escombros

te trago a foto

e o ombro.

Te desarquivo:
encontro.

Não há final (nem ponto).